sábado, 17 de dezembro de 2011

Copinho brasileiro

Ubaldo não tinha emprego, não tinha família perto, e nem tinha o que fazer em suas férias que já duravam mais de um semestre, no entanto, conseguia com muito esforço completar algumas obras.
Sua vida se resumia em acordar, lavar o rosto, comer biscoitos secos com leite fervido e ir pro papel. Seus papéis se resumiam em aquarelas escuras de água turva, onde poucos rostos se escondiam entre seios sempre encobertos por muita, muita tinta.
Depois do almoço ele tirava a rolha com os dentes, como um pirata faz, mas parava subitamente, e com gestos elegantes despejava sua cachaça sobre um copinho miserável.
A tragédia começou. Ubaldo mecanicamente pegou seu pincel e mecanicamente o molhou na água, molhou na tinta, molhou no papel, molhou na água, molhou na tinta, e, de repente!... Molhou no copinho.

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